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Carta Dos Leitores.

Magizoologia – Orlando Louzada




Juro solenemente que não pretendo fazer desta coluna uma aula de biologia.

Às vezes eu rio muito quando escuto alguém dizer que sonha seguir alguma profissão, desde que se entende por gente. Quando eu era pequeno, ou melhor, criança, porque pequeno eu nunca fui, eu queria ser cientista, mas não desde que me entendo por gente. Minha mãe ficava desesperada quando me via misturando materiais de limpeza (ATENÇÃO! O MINISTÉRIO DOS TROUXAS ADVERTE: NUNCA TENTE FAZER ISSO EM CASA) ou brincando com um inseto de aspecto estranho que eu achava no jardim. E eu adorava isso tudo!

Descobri o mundo criado por J. K. Rowling com 10 anos, vendo o primeiro filme, e o fato de achar tudo muito improvável, e impossível de ser comprovado cientificamente, não me impediu de esperar minha carta pra Hogwarts. Hogwarts! Aqui começa a parte que costumam não gostar…

Segundo especulações, Rowling criou o nome “Hogwarts” a partir da planta Croton capitatus, que recebe o nome popular “Hogwort” em inglês. Bom, esse não é o fato mais impressionante envolvendo o nome da nossa escola de magia e bruxaria preferida. 

Como devem saber, tudo que é vivo ou já foi na face desse planeta, tem um nome científico, que é uma linguagem universal, tipo matemática, teoria musical e etc. O que significa que todos os cientistas e estudantes da área conhecerão aquele indivíduo por esse nome, até sabe-se lá quando, no futuro. Ou seja, esses nomes entram pra história da Paleontologia (parte da ciência que, de um modo geral, estuda animais, e até plantas, instintos há muito tempo). Onde eu estava mesmo? Ah! Hogwarts! Nossa querida Hogwarts! Agora você deve estar se perguntando: e o que Hogwarts tem a ver com Paleontologia? Bem, tratando-se de um certo dinossauro, TUDO! Seu nome científico é Dracorex hogwartisia (que significa “Dragão rei de Hogwarts”). Segundo informações, de caráter falseável, colhidas na internet, o descobridor dessa espécie de dinossauro seria fã de J. K. Rowling, e teria incluído “hogwartisia” nesse nome. Segundo outras informações, Joanne seria paleontóloga amadora, e teria adorado a homenagem.

Mas e dentro do mundo mágico de Harry Potter, você consegue perceber a presença da ciência? Acertou quem disse que não, pois ciência e magia são coisas opostas e uma não consegue explicar a outra, mas também acertou quem disse que sim, afinal Jo deu duro pra que seu mundo parecesse natural. Provavelmente você já ouviu falar de Newton Scamander, já que você deve ser um aluno muito aplicado. Bom, se você não é da Corvinal, nem um amante das aulas de Trato das Criaturas Mágicas, eu explico! Newt foi o autor da série de livros “Animais fantásticos e onde habitam”. Ele trabalhava para o Ministério viajando pelo mundo, o que o ajudou a reunir um grande acervo sobre as mais diferentes criaturas estudadas pela Magizoologia. Sim, existe uma denominação para o estudo dos animais mágicos! Newton, inclusive, esteve no Brasil por um grande período de tempo estudando lesmas-de-fogo na Amazônia, uma das raras menções ao nosso país em toda a literatura de J. K.

Além da Magizoologia, Rowling também diz respeito à Alquimia, uma parte da ciência antiga que envolvia misticismo. Os alquimistas tentavam, principalmente, transformar qualquer coisa em ouro puro. O que sabemos que não é assim tão possível; talvez com um feitiço ou outro Mione consiga (Snape talvez soubesse também. Fazer ouro e cozinhar a fama são quase as mesmas coisas).

Bem, talvez agora você queira seguir carreira na Magizoologia, e caso possua um vira-tempo, volte alguns milhões de anos pra conhecer pessoalmente um Dracorex!

Orlando Louzada não desistiu da aula de Trato das Criaturas Mágicas no sexto ano.


Um caldeirão borbulhante de amor – IgorFerreira


Diversos personagens passam-nos despercebidos durante os sete volumes da saga Harry Potter e embora alguns deles tenham papel definitivo em toda a história, muitas vezes são esquecidos ou não lhes é dada a devida atenção. Entretanto eles estão lá, ainda que escondidos entre os elementos exuberantes do mundo da magia, tal como J.K. Rowling descreve Mérope Gaunt.

“…uma garota cujo vestido cinzento e rasgado era exatamente da cor da parede de pedra encardida às suas costas”.

Mergulhando nas lembranças de Beto Ogden, nem o próprio Harry, que estava inserido na cena, consegue perceber a presença daquela garota de “cabelos escorridos e sem vida e o rosto comum, pálido e feioso”. A descrição de Jo é, pois, perfeita para destacar a participação de Mérope em seu contexto familiar, tão notória quanto a importância das pedras que formavam a parede 
do casebre em que vivia com o pai e o irmão.

Ainda neste trecho, mais adiante, nossa autora frisa o papel de Mérope como uma simples empregada, remexendo nas caçarolas e panelas imundas na cozinha, com um aspecto um pouco mais limpo do que o restante de sua família embora nunca houvesse se tido notícia de alguém tão arrasado. Assim ela era encarada tanto por Morfino quanto por Servolo, uma reles funcionária obrigada a manter a casa no mínimo habitável para o conforto dos tão nobres sucessores de Salazar Sonserina, e esta submissão, comprovada em todas as passagens em que ouvimos falar de Mérope Gaunt, causou danos irreparáveis sobre aquela moça, dentre os quais posso destacar o impacto sobre a habilidade mágica da jovem.

Como bem analisa Dumbledore: “Acredito que os seus poderes mágicos não se manifestassem favoravelmente enquanto ela estava aterrorizada pelo pai”. E para piorar tal situação, Morfino e Servolo, a cada erro da jovem, ofendiam-na com xingamentos que realmente feriam e torturavam a mente de Mérope.

“Ouviu-se um estrondo metálico. Mérope deixara cair uma panela.

- Apanhe isso! – berrou Gaunt para a filha. – Isso, fuce o chão como uma trouxa porca, para que serve a sua varinha, seu saco de estrume?”


Mas o ódio dos Gaunt por trouxas e mestiços, apoiado na sua linhagem “nobre” de sangue puro, como insistia Servolo em ressaltar, foi finalmente atestado e punido pelas leis mágicas, enviando pai e filho para Azkban. Talvez se desconhecêssemos o restante da história poderíamos pensar em como a pobre Mérope conseguiria se arranjar sozinha no mundo, mas assim que compreendemos o carma em que a pobre menina vivia entendemos também a libertação que a prisão dos outros dois Gaunt representou para Mérope.

Sozinha na paupérrima habitação em Little Hangleton, a única mulher descendente de Cádmo Peverell teve liberdade suficiente para concretizar o que o pai tanto repudiava: seu amor por um trouxa. Incapaz de encantar Tom Riddle com seus atributos físicos, o coração desesperado pulsando dentro do peito, Mérope encontrou em Amortentia a única possibilidade de ter junto de si o homem que amava. Entretanto, ela desconhecia os ensinamentos que Slughorn confere à turma de Harry no seu sexto ano: “A Amortentia na realidade não gera amor, é claro. É impossível produzir ou imitar o amor”.

Antes de prosseguir, é necessário fazer uma pausa para analisar um ponto específico dessa tragédia digna de Shakespeare: como Mérope fez Tom Riddle tomar a poção? Segundo Dumbledore “não teria sido muito difícil, em um dia de calor, quando Riddle estivesse cavalgando sozinho, persuadi-lo a beber uma água” onde haveria de estar a poção misturada. Eu, no entanto, ainda que ache muito plausível esta hipótese, considero difícil que Tom aceitasse qualquer coisa, mesmo água, proveniente da “casa pertencente a um velho pobretão chamado Gaunt e aos filhos dele”. Na passagem anterior a essa ele trata com certo desprezo os moradores do casebre além das terras de sua família, e ainda que não inclua expressamente Mérope nas suas considerações também não deixa de excluí-la. Sustento, assim, muito mais a possibilidade de Mérope ter entrado sorrateiramente na casa dos Riddle, passando-se por alguma empregada, e depositado com cuidado no copo de seu amado algumas gotas da poção. Suposições à parte, avancemos.

O fato é que qualquer que tenha sido o modo de enfeitiçar Tom Riddle, o resultado foi momentaneamente positivo. Abandonando a família e causando um escândalo no vilarejo, o filho dos ricos proprietários fugiu com a filha do pobretão vagabundo, que regressou algum tempo depois encontrando três dedos de poeira e um bilhete explicando a deserção da filha, fato que influenciou a morte prematura de Servolo e evidenciou de uma forma curiosa o estranho, mas existente, amor que nutria pela filha.

Passado algum tempo do casamento, quando Mérope já carregava em seu ventre aquele que se tornaria o bruxo das trevas mais temido de todas as eras, ela decidiu, convencida de que paixão tornara-se mútua e que a concepção de um filho seguraria Tom junto de si, interromper o uso de Amortentia e contar a seu amado a verdade sobre a sua condição. Riddle retornou a Little Hangleton imediatamente, abusado em sua boa-fé e ludibriado (para não dizer que fora enfeitiçado), e nunca quis saber que destino tomara Mérope ou o próprio filho.

Daqui em diante os caminhos trilhados por Mérope são ainda mais obscuros, havendo poucos momentos em que se pode afirmar com certeza seus passos. Sozinha e desiludida, não é difícil imaginar aquela menina estrábica andando descompassada pelas ruas de Londres acariciando o ventre sob o vestido velho e desbotado banhado por lágrimas. Mérope viveu à mercê do destino acompanhada apenas pelo filho e a única lembrança que levara de sua família: o precioso medalhão de Salazar Sonserina, que vendeu, levada pelo desespero e pela vontade de sobreviver, ao miserável Carátaco Burke por meros dez galeões nas vésperas do Natal.

O desapego do medalhão, ao meu ver, porém, representa muito mais do que a necessidade de Mérope de sobreviver. Esse fato simboliza a distinção extrema entre a jovem e sua família, pois ao contrário de Servolo e Morfino, que dariam a própria vida pela honra da sua ascensão, Mérope escolhe lutar (sem usar magia, pois seus poderes haviam, após a evasão de Tom, realmente minado) para dar a vida a seu único filho, fruto do seu amor por um trouxa. Aquela criança seria um mestiço tão odiado por seu avô quanto qualquer outro, mas ainda assim ela buscou forças para dar-lhe à luz, o que fez no último dia do ano de 1926 antes de falecer, deixando a seu filho apenas o nome que um dia ele repudiaria.

Finalizando essa análise que já vai longa demais, quero por em pauta somente mais dois pontos. Primeiro, se é possível reconhecer claramente a distinção que deve ser feita entre Mérope e seus familiares, não podemos deixar de notar um traço típico que prevalece no avô, no tio e na mãe de Lorde Voldemort: a arrogância. É indiferente falar desse aspecto em Morfino e Servolo, uma vez que ele salta aos olhos em suas figuras. Em Mérope, entretanto, pode ser que passe despercebido, mas o simples fato de tentar obrigar Tom Riddle pai a se apaixonar por ela já delimita um poço de arrogância ainda que “acidental” morando dentro dela.
“Mérope Riddle preferiu morrer apesar do filho que precisava dela, mas não a julgue com tanta severidade, Harry. Ela estava enfraquecida pelo longo sofrimento e nunca teve a coragem de sua mãe.”

Ainda que a segunda frase da colocação acima abrande o efeito da primeira e esteja completamente correta, Dumbledore é superficial demais ao dizer que Mérope escolhera morrer. De forma alguma! Mérope foi corroída pelo seu sofrimento, as suas desilusões, e é mais do que plausível sugerir que ela pudesse estar afetada por alguma doença além do dano psicológico do qual padecia. Aquela jovem não se entregou à morte, como se pode pensar ao ler a afirmação de Dumbledore. Seu destino foi fruto do que ocorreu durante toda sua existência, o passado de humilhação, abandono, miséria, fome e angústia. Mérope não se rendeu. Ela lutou até não poder mais pela sua vida e de seu filho, mas foi vencida pela morte que chega até mesmo para aqueles que têm mais vontade de viver.

Igor Ferreira jamais usará a poção do amor com alguém.

Dumbledore: uma quase-mobília de Hogwarts – Igor Ferreira




A grande maioria dos fãs que veneram a figura controversa de Alvo Dumbledore, muitas vezes pega-se discutindo assuntos como a genialidade do grande mestre, os seus diversos problemas familiares, a relação tumultuada com Gerardo Grindelwald, seus gostos excêntricos e sua suposta homossexualidade. No entanto, pelo que percebo, muitos deixam de observar (ou se observam, deixam de discutir) um assunto fundamental e que me salta os olhos em todo decorrer da saga: a estreita relação entre Hogwarts e o professor Dumbledore.
Bruxos mais, digamos, desinteressados, contam a passagem por Hogwarts como mais um mero período da vida. Já que todos tem que ir pra escola, fazer o que, né… Outros, entretanto, acabam se apegando de tal forma aos encantos sutis do castelo que dedicam quase que suas vidas inteiras, abdicando de gozos pessoais, para servir a nobre arte de ensinar. Ninguém, entretanto, como o próprio Hagrid diz, fez tanto por Hogwarts como Alvo Dumbledore.

Após uma série de eventos desastrosos, culminando com a morte de Ariana e o afastamento de Aberforth, o passado de Dumbledore é incerto. As páginas de Rowling nada nos dizem sobre o período de trinta e nove anos que se passa entre os trágicos acidentes de Godric’s Hollow e o retorno de Alvo a Hogwarts, já como um saudoso professor de transfiguração. Podemos e devemos imaginar o que Dumbledore fez nesse meio-tempo, mas isso não vem ao caso agora. O que vale analisar é que, uma vez de volta à escola, Dumbledore se dedicou como nunca a preparar uma geração inteira de novos bruxos e, para isso, empreendeu uma política de que não há referências passadas. Alvo buscou resgatar jovens bruxos que, de uma forma ou outra, haviam sido distanciados do mundo em que deveriam viver, sendo o exemplo mais notório disso (e talvez o maior erro de um Dumbledore que confia sempre no melhor das pessoas) a empreitada que levou Tom Riddle até Hogwarts.

Humilde e determinado, Dumbledore se dedicou de corpo e alma ao papel de professor, produzindo resultados notáveis. Para se ter uma ideia, ele foi responsável por conduzir a educação de sua brilhante sucessora, Minerva McGonagall, que só deixou o cargo de professora de transfiguração para se tornar diretora de Hogwarts. No mais, passaram pelas mãos de Dumbledore, Lorde Voldemort, Severo Snape, Lílian Evans, Remo Lupin, entre outros que se tornaram bruxos memoráveis.

Dumbledore seguiu firme nos seus princípios, o que lhe valeu, após a morte do então diretor Armando Dippet, o confortável gabinete com entrada no sétimo andar. Foi o cargo que ocupou até sua morte, sempre prezando pelo bem de Hogwarts e de seus estudantes. E que fique a ressalva de como os estudantes de Hogwarts eram importantes para Dumbledore. Em Harry Potter e o Enigma do Príncipe, por exemplo, fica claro como a mera insinuação feita por Harry sobre a falta de segurança para com a segurança dos estudantes nas ausências de Dumbledore causam aborrecimento no diretor. Novamente em A Ordem da Fênix, quando Dolores Umbridge se descontrola e quase agride Marieta Edgecombe, Dumbledore se interpõe de forma sagaz, de varinha em punho e, firme, se dirige à professora: “Não posso permitir que você brutalize os meus estudantes, Dolores – disse Dumbledore e, pela primeira vez, pareceu aborrecido.”

Parece até que me perdi da linha inicial que resolvi traçar sobre como Dumbledore acaba se confundindo com a mobília da escola, mas, aproveitando o gancho do parágrafo anterior e ainda falando de Dolores Umbridge, lembro-me agora de uma passagem fundamental para ilustrar a sintonia entre Dumbledore e Hogwarts. Quando Alvo Dumbledore deixa a diretoria devido ao enorme complô que se estabelecia ao seu redor e Umbridge é nomeada para sucedê-lo no cargo, a sala do diretor, creio que representado a fidelidade de Hogwarts, se fecha a sua suposta nova ocupante e assim fica até a volta de seu digno merecedor. É como se Hogwarts reconhecesse que lhe faltava uma parte e que este pedaço estava prestes a voltar, a qualquer momento.

O todo reconhecendo a parte, mas uma parte que jura não reconhecer o todo por completo. Dumbledore demonstra traços da humildade verdadeira e de sua inexistente arrogância ao assumir não conhecer todos os segredos de sua escola. Em Harry Potter e o Cálice de Fogo ele faz uma declaração engraçadíssima ao professor Karkaroff sobre uma sala cheia de penicos que talvez só aparecesse às cinco e meia da manhã, com a lua em quartil ou quando quem procura está com a bexiga excepcionalmente cheia. Sinceramente não creio que Dumbledore desconhecesse a existência da Sala Precisa ou que ele estivesse, aos 115 anos, muito longe de entender Hogwarts por completo, afinal, como o próprio Voldemort diz ainda bem jovem e Harry Potter reforça aos onze anos, Dumbledore foi permanentemente onisciente de tudo que acontecia por ali.

“Ele é um homem engraçado, o Dumbledore. Acho que meio que queria me dar uma chance. Acho que sabe mais ou menos tudo o que acontece por aqui, sabe?”

Mesmo depois da morte, Alvo Dumbledore permaneceu como parte interina de Hogwarts, repousando eternamente nos jardins serenos da propriedade. O professor, com seus oclinhos de meia-lua apoiados desengonçadamente sobre o nariz torto, marcou a história da escola e, sem dúvidas, é impossível não lembrar Hogwarts sem pensar na figura esguia de cabelos e barbas prateados postada no Grande Salão para receber, ano pós ano, de braços abertos, os jovens que ele tanto estimava. Por isso, mais uma vez, reforço minha ideia inicial de um Dumbledore que foi, é e sempre será algo tão permanente naquela escola quanto as pedras que sustentam o castelo.

Igor Ferreira adora picolé de limão.

Representações de Magia em Potter e na História –  Débora Jacintho.


Harry Potter tornou-se um fenômeno mundial. Milhares de pessoas de todos os cantos do mundo já leram algum dos livros ou assistiram aos filmes. JK Rowling criou um mundo mágico, e pode se perceber alguns aspectos recriados da ideia de magia, e até das próprias criaturas e objetos mágicos. O objetivo deste projeto é analisar o modo com que a autora recria um passado tratado como mágico, e como isso seria uma crítica ou fuga da realidade moderna.



O impacto da série no mundo foi muito grande, sendo que foram criadas várias relações entre aspectos dos livros e o mundo real. Pode-se analisar e comparar esses aspectos, com fatores do próprio passado real. Outra abordagem a ser feita é a representação dada aos bruxos e magos na série e na História. Podem ser buscados relatos de representações de bruxos em vários períodos para buscar um paralelo com o universo criado por JK Rowling. Questões acerca de como as representações mudaram, e como as novas representações refletem uma “fuga da realidade” da atualidade, ou uma mistificação da modernidade são aspectos a serem indagados.


Através de Harry Potter, o passado mágico voltou a ter destaque, devido a relações feitas nas próprias obras. No Prisioneiro de Azkaban, há um trecho em que se fala um pouco da queima de bruxas na inquisição. O trecho se apresenta como parte de do livro de História da Magia, disciplina ministrada na escola de Hogwarts. Há outras menções também, ao longo dos livros, de outras realidades relacionadas ao passado “real”, como aparições de personagens como Nicolau Flamel, Merlin (também presentes nas representações de magia da história), além de resgate de criaturas de mitologias antigas.


A questão central é a de como se relacionar as obras de Rowling, com seus conceitos e representações de magia, com as representações de magia feitas no passado. Procurar-se-á, então, analisar o quanto as representações de bruxaria e magia mudaram, e em que sentido mudaram.


O trabalho de pesquisa começará indagando acerca da questão da bruxaria na Idade Média, com o ideário, os simbolismos e a perseguição. Há relatos acerca dessas visões em relatórios feitos pela inquisição sobre o tipo de bruxaria praticado, e as punições.


Quanto à questão da bruxaria na Idade Média, há uma citação em um trecho do livro O Prisioneiro de Azkaban. No trecho, o personagem Harry está estudando um livro de História da Magia, e se depara com um parágrafo acerca da bruxaria na época medieval. Segue o excerto:


“Os que não são bruxos (mais comumente conhecidos pelo nome de trouxas) tinham muito medo da magia na época medieval, mas não tinham muita capacidade para reconhecê-la.”


Seguiria uma diferença então, a partir do trecho, da construção que Rowling faz acerca dos bruxos de verdade em relação aos que não eram de verdade (no livro). Os bruxos que não eram reais entrariam na questão do simbolismo com que as pessoas tinham acerca desse tema – algo pouco conhecido e temido. Assim, a visão magia na Idade Média pode ser considerada a partir principalmente das crenças populares.


Paula Montero, em seu livro Magia e Pensamento Mágico (Montero, 1985), aborda a questão da magia na Antropologia. Ela faz uma análise comparativa entre representações de magia e religião, e tece argumentos no sentido de envolver questões de individualidade e coletividade. É importante constar uma análise nesse caminho, no sentido de justificação quanto ao interesse das pessoas nas questões de magia e misticismo.


Além de analisar a obra de JK como um todo, pode-se falar um pouco da questão dos contos de fadas. No último livro de Rowling, As Relíquias da Morte, nos é apresentado o livro Os contos de Beedle, o Bardo, livro deixado por Dumbledore de herança para Hermione. São contos que, segundo a descrição, eram lidos por gerações de famílias bruxas para os filhos. Rony afirma “(…) todas essas velhas histórias vieram de Beedle.”, ou seja, não se sabe direito a origem, nem como eles seriam em suas versões originais. Podemos ver um paralelo com os contos de fadas atuais, os quais se atribuem aos Irmãos Grimm a autoria por boa parte deles.


Para complementar a aparição dos contos no sétimo livro, JK Rowling criou e publicou o próprio Os Contos de Beedle, o Bardo, com direito às “versões originais” daqueles contos tradicionais. Assim, podemos fazer uma análise neste ponto, também para falar sobre recriação e re-atualização de um passado mágico, comparando o tratamento aos contos de fadas, tanto em Harry Potter quanto na “vida real”.


Após esse breve relato, conclui-se que a abordagem pode ser extensa, devido ao número de fontes disponíveis. Assim, o objetivo desta coluna foi o de fazer uma análise introdutória sobre o assunto das representações de magia em Harry Potter, comparando com as representações do passado. Com isso, pode-se tecer algumas conclusões, mas não definitivas, sobre o significado desta questão para a modernidade. Caberá ao leitor agora verificar essas questões e analisar se a retomada desse passado mágico representaria uma crítica ou apenas uma mistificação da realidade moderna.


Débora Jacintho é a verdadeira autora de ‘Hogwarts, uma História’.

Menos ódio, mais pudim – Orlando Louzada



Imagine alguém que crê no impossível, que abre seu mundo a outro inexistente, e que despreza o famoso “comprovado cientificamente” para basear-se somente em sua fé. Provavelmente você pensou em Luna Lovegood, mas na verdade eu estava falando de você. Já parou pra pensar na sua devoção ao incrível mundo que J. K. Rowling criou? Quantas vezes você já se pegou pensando, ou até mesmo conversando com amigos, sobre elfos-domésticos, feitiços, ou o quão maravilhoso seria estudar em Hogwarts e trabalhar no Ministério da Magia? Pois bem, suas semelhanças com Luna são maiores do que você pode pensar. Mesmo embora alguns prefiram se parecer à Hermione Granger, que tem uma personalidade forte, é inteligente, e aparentemente, sã. Mas o que há de errado com Luna Lovegood? Nada.

Um dos capítulos mais bem comentados e elogiados de “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” é “Campana de elfos” (Capítulo dezenove), em que Luna irradia uma partida de quadribol, embora a última coisa em que ela fale seja quadribol.

A própria Rowling considera Luna como sendo o inverso de Hermione. Luna é considerada excêntrica, esquisita, e lunática, é descrita nos livros como possuidora de grandes olhos cinzentos e saltados, o que dá a personagem um ar de birutice, e expressões distantes e sonhadoras, fazendo dela uma pessoa rica de espírito, enquanto Hermione, como a Professora. Trelawney disse, tem a alma tão seca quanto as páginas dos livros que lê tão desesperadamente.

Não é preciso ser bruxo para saber que uma pessoa que usa colares de rolhas de cerveja amanteigada e brincos feitos de nabos sofreria, em parte, o que chamamos de bullying, em Hogwarts ou em qualquer outra escola; devido à sua personalidade diferente e seu singular guarda-roupa, a menina é chamada de Di-lua Lovegood, no texto original Moonly Lovegood, que é literalmente “lunática”, e tem seus pertences escondidos por outros estudantes. Mas a jovem Lovegood tem as características perfeitas de uma Corvinalista: sagacidade e inteligência. Sagacidade que pode ser vista na Batalha do Ministério e na Batalha de Hogwarts. Quanto a sua inteligência, J.K. nos dá uma pista em seu nome (Luna), que quer dizer lua em latim. Aqui no ocidente, folcloricamente, a lua representa intuição e sabedoria.
Mas seria somente isso que o nome dela tem a revelar? Acertou quem disse não. Todos nós sabemos que os nomes escolhidos pela autora não são somente “nomes”. Lovegood seria a junção das palavras, em inglês, “amor” e “bom”, respectivamente, Love e good, o que sugere uma ideia de ingenuidade. Há também quem diga que Joanne faz referencia à Elliot Lovegood Grant Watson, severo crítico do Darwinismo, o que é provável devido à tendência de Luna em contestar o exacerbado ceticismo científico de Hermione, e também porque, mais tarde, Luna viria a se tornar Naturalista, um dos ofícios de Elliot, que além de escritor era considerado, vejamos, MÍSTICO.

Portanto, use seu melhor brinco de rabanetes, e comemore seu jeito Luna de ser comendo muito pudim. Menos discórdia, mais pudim, e o mundo seria um lugar muito melhor! A propósito, alguém viu meus zonzóbulos?

Orlando Louzada lê revistas de cabeça para baixo.


Outra lição de igualdade –  Luiz Guilherme Boneto


Os grandes fãs de Harry Potter, dentre os quais honrosamente me incluo, leram e releram a série inúmeras vezes. Diz-se por aí que, numa primeira análise de qualquer obra, seja ela livro ou filme, o receptor preocupa-se com o enredo e distancia-se dos detalhes, que podem ser melhor observados numa segunda avaliação. Nós, que de bom grado fizemos ao menos dez leituras de cada um dos livros, temos uma percepção aguçada de pequenos detalhes espalhados por toda a série, que não teriam influência no eixo central do enredo, caso fossem excluídos. As entrelinhas tornam Harry Potter ainda mais atraente e agradável de ser lido.
Sempre me chamou a atenção o papel feminino na série. Sem explicitar os fatos, Jo Rowling incluiu em sua série uma participação maciça das mulheres em cargos de grande importância. No mundo dos bruxos, elas são ministras da Magia, chefas do Hospital St. Mungus, diretoras de Hogwarts. Não há entre os personagens qualquer comentário citando o fato de uma mulher estar num cargo alto como algo “diferente”; há séculos, elas têm a mesma importância no mundo da magia. No Brasil, foi preciso que se passassem algumas décadas até que uma mulher ocupasse a presidência da República, e ainda assim, a representação feminina no Congresso Nacional segue acanhada. Não é preciso vir ao Brasil para constatar que os homens ainda são mais presentes: na própria Inglaterra, a política é majoritariamente dominada por eles. Contudo, logo ali ao lado, no universo criado por Jo, a presença feminina é marcante e natural.

Longe dos livros, em seu site na internet, a autora manteve atualizada por muito tempo a seção “bruxo do mês”, na qual dividia grandes feitos do mundo da magia entre homens e mulheres. Segundo o portal, Mnemone Radford, por exemplo, foi a primeira obliviadora do Ministério da Magia, nascida em 1562. Jocunda Sykes, nossa contemporânea, foi a primeira pessoa a atravessar o Oceano Atlântico numa vassoura. Por outro lado, em Hogwarts, duas das quatro casas foram fundadas por mulheres, justamente as que têm como características mais marcantes a inteligência e a lealdade: Corvinal e Lufa-Lufa.


Em sua peculiar forma de igualar homens e mulheres, Jo Rowling não se abstém de incluir em seus livros as vilãs, das mais diversas espécies. Temos Belatriz Lestrange, que fascina milhares de fãs ao redor do mundo, cuja lealdade a Voldemort se manteve o tempo todo intacta. Belatriz é de fato uma personagem única; até sua morte, ela se manteve do mesmo lado; talvez o fato de ser leal seja justamente o que a faz ter tantos fãs. Ela, contudo, pratica durante toda a série as crueldades mais indignáveis. É ela quem mata Sirius Black, o que lhe causou, digamos, alguns desafetos entre os leitores. Em “As Relíquias da Morte”, Belatriz protagoniza aquela que foi uma das passagens mais eletrizantes de toda a série: a tortura de Hermione na mansão dos Malfoy. Tanto no livro quanto no filme – que é o meu preferido entre os oito gravados – é possível que cada fã tenha sentido sua dor. Eu, que tenho uma identificação especial com Hermione, me senti mal por ela de forma ainda mais incisiva. Ao final, Belatriz é morta ao tentar assassinar Gina Weasley, como sabemos, naquela que se tornou uma das frases mais famosas dos sete livros, dita por Molly Weasley, que foi quem a matou, para deleite dos fãs: “Not my daughter, you bitch!”

Dolores Umbridge guarda a vilania como única semelhança com Belatriz Lestrange. Ao contrário de Bella, Umbridge foi concebida para ser detestada. Seu caráter discutível, o fato de que, para se dar bem, ela se aliava a quem quer que fosse, seu desembarque conturbado em Hogwarts, enfim. Haverá poucos fãs que declaram gostar de Umbridge. Ela nunca foi de fato uma comensal da morte, mas talvez, se assim lhe conviesse, ela seria. Isso faz de Umbridge uma personagem absolutamente sem lealdade, seja para o bem ou para o mal. Detestável.

Há, ainda, outras vilãs como Narcisa Malfoy, e a própria Tia Petúnia, para quem assim quiser considerá-la. Ambas, contudo, movem-se em determinados momentos pelo amor de mãe, uma característica unicamente feminina. Narcisa, inclusive, divide opiniões com sua atitude ao salvar a vida de Harry visando a de seu filho Draco.

No lado do bem, a presença feminina é abundante: Molly e Gina Weasley, Ninfadora Tonks, Minerva McGonagall, Fleur Delacour, Luna Lovegood e Hermione, é claro, são apenas alguns exemplos que podem ser citados como as grandes mulheres da série. Todas tiveram importância crucial na vida de Harry, e de igual forma, todas puseram suas vidas em perigo em prol de uma causa muito maior. Mais que isso, Jo Rowling imprimiu características únicas a cada uma delas. Não importa qual tenha sido seus destinos ao fim: seus papéis foram cruciais.

Mais do que introduzir de modo natural a marca das mulheres em sua série, Jo extingue preconceitos que estão profundamente enraizados em nossa sociedade; o machismo é um deles. Não me aventuro a dizer que, entre os bruxos, o machismo inexista. Contudo, diante de tantos exemplos e constatações, pode-se concluir que é muito menor. Nós não somos capazes de realizar feitiços na vida real. Mas somos perfeitamente capazes de compreender algumas lições que nos são passadas pela Jo. O preconceito nunca deve imperar entre aqueles que defendem o bem. Mais uma vez, Joanne Rowling mostra-se grandiosa e genial. Como sempre.


Luiz Guilherme Boneto adora todas as mulheres. Mas ama J.K. Rowling.



Reflexões sobre Azkaban  Por Monique Calmon







Frequentemente, na mídia global, nos deparamos com notícias de presos sendo torturados na Líbia, na Síria, no Iraque… E até mesmo no Brasil. Diversas vezes, os presos em questão vivem em países em guerra, e ao protestar em prol de seus direitos, acabaram sendo oprimidos por lideranças autoritárias e corruptas. Outras vezes, são criminosos de fato, pessoas julgadas e condenadas. Em ambos os casos, no entanto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é clara: a tortura é um ato criminoso por si só, ao qual ninguém pode ser submetido.
Em Harry Potter,uma questão sempre me chamou a atenção:em Azkaban,  a prisão
de segurança máxima do mundo bruxo, os criminosos eram torturados constantemente pelos dementadores. Não é para menos que, toda vez que algum personagem dos livros cita tais criaturas, sorrisos somem e surge uma tensão no ar. Resquícios de medo, repulsa e tristeza, especialmente dos que já sentiram na pele e na mente os efeitos de sua presença. Lupin os descreve, em “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”:

“Os dementadores estão entre as criaturas mais malignas que vagam pela Terra. Infestam os lugares mais escuros e imundos, se comprazem com a decomposição e o desespero, esgotam a paz, a esperança e a felicidade do ar à sua volta. Até os trouxas sentem a presença deles, embora não possam vê-los. Chegue muito perto de um dementador e todo bom sentimento, toda lembrança feliz serão sugados de você. Se puder, o dementador se alimentará de você o tempo suficiente para transformá-lo em um semelhante… desalmado e mau. Não deixará nada em você exceto as piores experiências de sua vida.”

Harry tantas vezes escutou a voz de sua mãe durante seus últimos momentos, deseperada tentando salvá-lo de Voldemort. Quando ele descobre a verdade sobre Peter Pettigrew, o verdadeiro traidor dos Potter, pede para que Lupin e Sirius não fizessem o trabalho sujo de matá-lo. Ao invés disso, decide que Peter merecia receber o Beijo da Morte e ter sua alma sugada de seu corpo pelos dementadores.

É fácil dizer que Peter, como muitos outros Comensais da Morte, deveria ter sofrido as piores consequências. Mas é uma questão moral em jogo. E uma questão muito subjetiva, provavelmente sem resposta. Imagine perder um ente querido, ou ser torturado. Qualquer um sentiria um desejo inevitável de vingança, e Azkaban seria até aceitável como método de punição.
Contudo, é difícil confiar na avaliação humana. Por exemplo, o Departamento de Execução das Leis da Magia não era infalível, tanto que Sirius e Hagrid, acusados injustamente, foram parar em Azkaban. É como a pena de morte em nosso mundo, algumas vezes a pessoa errada perde a cabeça…

Além de tudo isso, dementadores não eram confiáveis. De fato, mantiveram os piores bruxos presos por muito tempo, porém permitiram a fuga de diversos Comensais da Morte em 1996 e 1997, como Dumbledore havia antes previsto que aconteceria, com o retorno de Voldemort.

Voltando para o nosso mundo, dos trouxas (infelizmente!), creio que “Harry Potter” traz à tona a necessidade de se refletir sobre como tratamos as pessoas que causam algum dano a nós ou à sociedade. E, principalmente, de se discutir sobre isso, para que a sociedade chegue a um consenso sobre o que é melhor para sua existência e manutenção. Acredito que, de algum modo, J.K. Rowling quis nos passar essa mensagem.

Monique Calmon mantém sempre uma barra de chocolate ao alcance da mão, caso cruze com algum dementador.

Harry Potter é clichê? – Por Fernando Castro


A idéia para essa coluna surgiu de uma conversa que tive com uma amiga de faculdade. Ela não é grande fã de Harry Potter, ainda que goste dos livros e acompanhe os filmes. O que me chamou atenção durante o debate foi ela ter dito que achava Harry Potter cheio de clichês, o que eu considerei surpreendente, por vir de alguém que leu todos os livros e, portanto, tem um bom conhecimento sobre a história.

Embora não tenha mencionado este termo especificamente, segundo os motivos que me disse, ela classifica Harry Potter como sendo arquetípico. Ou seja, como uma história construída em cima de modelos pré-estabelecidos, que se repetem geração após geração. Histórias arquetípicas seguem uma mesma tendência ‘manjada’ que sempre faz parte dos enredos. Exemplos simples disso são o príncipe encantado, o velho sábio, o herói perfeito e o grande vilão, sedento de sangue.
A intenção do meu texto de hoje não é achar uma resposta absoluta para esta questão nem tampouco provar a originalidade de Harry Potter. Fã que é fã costuma ter, me permitam dizer, certa dificuldade para enxergar algumas coisas quando ela vai contra aos nossos ‘dogmas’. A paixão fala mais alto e os detalhes costumam passar batidos. Como me incluo nesse grupo, é difícil para mim conseguir arranjar argumentos que concordem que Harry Potter seja um clichê. Mas vamos lá, vamos ficar à vontade para debater sem extremismos.

Essa amiga argumentou que o Harry segue um modelo padrão de herói. Primeiro, nasce com um peso gigantesco nas costas, sendo, de alguma maneira, a pessoa que deve fazer um ato que moldará o destino de todos. Segundo, ele se desvia dessa responsabilidade até certo ponto. Terceiro, ele se desenvolve em pouco tempo e consegue, por fim, matar o vilão, que é sedento por sangue. E assim como o Harry, os demais personagens são pré-estabelecidos.

Por mais que eu tente concordar com algum destes argumentos, olhando-os com cuidado especial, devo dizer que não consigo. O motivo? Eles podem até existir, de alguma forma, para aqueles que não conhecem muito a fundo a fundo os personagens ou que não se envolveram como os fãs que captaram a mensagem de J. K. Rowling, mas nada é assim tão simples em Harry Potter. Quero dizer, talvez a base da história seja mesmo a base de toda grande história, ou seja, alicerçada em certos princípios que são ‘receita’ de sucesso, mas há um porquê em cada uma das razões apresentadas por minha amiga.

Talvez o que muitas pessoas chamem de clichês o são não porque necessariamente existam em todas as histórias, mas porque façam parte da humanidade. Vocês conseguem imaginar uma única série que conquistou milhões de fãs ao redor do mundo que não tenha, por exemplo, um grande mestre? O que dizer de Gandalf de O Senhor dos Anéis ou de Lee Scoresby e Lorde Faa de Fronteiras do Universo? Grandes mestres existem, quer dizer, a figura de um guia intelectualmente avançado, mas cada um desses grandes mestres exerce importância à sua maneira. Por exemplo, apesar de ouvirmos constantes comparações entre Dumbledore e Gandalf, qual a grande relação entre eles? As semelhanças terminam na idade avançada, na barba branca e na magia de cada um. Quem leu as duas séries talvez concorde que existem mais diferenças entre os dois que semelhanças e que cada um, apesar de guia, possui função efetiva no desenrolar das duas histórias bem diferentes.

Este é que eu considero o ponto forte de Harry Potter: a construção e a profundidade dos personagens. Não são apenas heróis poderosos que moldaram o destino do mundo bruxo, mas antes disso, pessoas com histórias e mentalidade complexas. A trama não é isolada, ou seja, cada personagem não exerce sua função baseada nos padrões de sempre por causa da necessidade de se manter um padrão de comportamento. Antes disso, os personagens são construídos com complexidade, de modo a exercer importância não apenas dentro da história principal, mas por simbolizar temas importantes que J. K. Rowling discute. Isso quer dizer que sua função é muito maior que ser O Escolhido, o grande vilão ou o velho sábio? Sim.
Vamos pegar três dos quatro personagens principais da série: Harry, Voldemort e Dumbledore.

Harry não é O Eleito como se fosse um herói messiânico. Obviamente, ele carrega um fardo nas suas costas, mas como J. K. explica durante a série, foi Voldemort que o marcou como seu igual. A opção que Harry tinha seria enfrentá-lo de cabeça erguida ou esperá-lo, podendo mesmo dar às costas a profecia. O que moldou a história foi sua decisão, e já ficou mais do que clara qual a intenção da autora ao mostrar o quão nossas decisões são importantes na vida.

Voldemort é sedento por sangue, sem dúvida alguma. Mas não é apenas o vilão que quer matar o herói a todo custo, como se não houvesse razão para isso (embora cá entre nós, podemos justificar realmente as razões de Voldemort?). O que quero dizer é que Voldemort morreu sem compreender realmente várias coisas. Teve chance, mas sua incapacidade de percebê-las o levou ao fim. Talvez mais que qualquer outro personagem, o garoto Tom Riddle que se tornou Voldemort é complexo. Não vou aqui me ater a isso, mas alguma vez você já viu uma história mostrar tantos detalhes do vilão? Vermos em quais circunstâncias ele nasceu, como foi sua infância e como era enquanto adolescente?

Dumbledore é realmente peculiar. A sua história, contada em Relíquias da Morte, chegou até mesmo a ser considerada desnecessária para alguns. Eu gostei por mostrar que ele não era justamente um padrão de perfeição, que carregava culpas e dores como cada um de nós e que, como uma grande mente, passou a ter cuidado com o poder justamente por perceber o perigoso que este muitas vezes trás a quem se julga preparado para tê-lo.

Eu queria falar do Snape também, mas não quero tornar este texto mais longo, porque creio que seu objetivo já foi alcançado. Acho que o que mais tenha cativado os fãs do mundo inteiro em Harry Potter foram seus personagens, mais que qualquer outra série. Nunca vi a tamanha complexidade que possuem os personagens centrais, a identificação que temos com suas imperfeições e como sua mensagem para nós vai muito além da importância fundamental na história central. Então, Harry Potter é clichê para você?


O fim da relação mais longa da minha vida tem data marcada – Por Viviane Ferreira


É estranho pensar que cada dia estamos mais próximos do fim. Foram tantos anos, um presente na vida do outro. Você mais presente na minha vida do que imagina (permitam-me aqui me referir informalmente à série Harry Potter como uma amiga, como‘você’).
Todas as vezes que olho para trás e vejo tudo o que já passamos juntos, crescemos, amadurecemos, nos desenvolvemos, mudamos de opinião, voltamos atrás mas nunca deixamos de estar presente na vida um do outro.
Você sempre me trouxe uma novidade, se não fosse escrita em papeis que guardo em uma caixa para que ninguém mexa sem minha autorização, foi através de gestos, imagens, palavras, expressões.

Esta que foi a relação mais longa, prazerosa, benéfica, enriquecedora e recheada de amor que já tive na vida. Só de escrever estas linhas para expressar minha mais profunda tristeza volto ao passado e vejo o dia que você apareceu para mim. Foi um momento único, mágico.

Um amigo em comum nos apresentou, lembro da sua carinha, do seu jeitinho. No mesmo momento me apaixonei. É até engraçado, pois adquirimos uma confiança mútua. Você nunca teve problema em me contar sobre sua vida, me falar sobre seus fantasmas, suas magoas, suas paixões, seus desejos.

Eu sempre pude contar com você, todos os momentos em que mais precisei você esteve do meu lado, me confortando, me dizendo exatamente o que eu precisava, me mostrando como a vida poderia ser melhor, me trazendo à realidade.
Sempre nos entendemos tão bem, choramos juntos tantas vezes.
Perdemos tantos amigos, pessoas queridas que fizeram nossa história. Perdas estas que nos mudaram, nos fizeram amadurecer.

O que me deixa mais triste com o fim é saber que nunca mais poderei ver algo novo vindo de você. Poderei apenas reviver os momentos e chorar de saudades.

Todos me perguntam por que, ao invés de aproveitar tudo o que tem aparecido de novo a seu respeito nestes últimos dias, eu fico me escondendo e buscando um meio de adiar o inevitável. Mas é tão difícil, afinal são 11 anos de história, de um amor completamente correspondido, sincero, avassalador, inocente e lindo.
Se você soubesse o quanto me fará falta, o quanto preciso de você ao meu lado…
Escrevo estas linhas para tentar amenizar a minha dor.
Espero que um dia você olhe para trás e veja que precisa voltar, veja o quanto preciso de você, o quanto sofro com sua ausência, e ainda se dará conta de que não sou somente eu quem sofre. E neste dia espero que volte.

Dia 15 de julho de 2011 este é o dia do fim de nossa relação.


Mães: Heroínas da ficção e da vida real – Por Fernanda Koffke


Hoje é dia das mães. Um dia em que o comércio faz de tudo pra ganhar dinheiro, dizendo que sua mãe ficaria feliz de receber o presente mais caro da loja, o melhor perfume, a mais bonita jóia. E, é óbvio que ficaria. Ela ficaria ainda MAIS feliz, na realidade. Porque, vamos ser sinceros, sua mãe é feliz, feliz por um motivo muito maior, por ter tido você. Acredito que em sua maioria, mães são assim. Não existe lugar melhor pra demonstrar isso do que nos livros de Harry Potter.

Lílian deu sua vida para poupar a Harry. Morreu para proteger a criançinha que praticamente acabara de chegar ao mundo. Se pensarmos, um ano é tão pouco, não? Mas, para uma mãe, a partir do momento em que se sabe que se espera um filho, ele já é a coisa mais preciosa do mundo. O amor de uma mãe é tão grande, o amor de Lílian foi tão grande, que gerou uma proteção à Harry inigualável, coisa que somente uma mãe pode dar.
Mães morrem por nós, e mães matam por nós. Até a mãe mais pacífica mataria por nós. Molly Weasley que vos diga, e Belatriz Lestrange que confirme. Ao menor sinal de ameaça, uma mãe corre pra nos proteger, e mesmo que seja contra todos os seus princípios, ela fará absolutamente tudo pra nos livrar do mal. Quem não se emocionou ao ler: “A MINHA FILHA NÃO, SUA VACA!” ? Eu consegui sentir a onda de energia emanando de Molly.
Notamos claramente o quanto uma mãe faz falta. Luna, nossa tão amada Luna, acabou perdendo sua mãe ainda jovem, quando um feitiço acabou dando errado. A pobre menina viu quando tudo aconteceu. Já cheguei a imaginar que é por isso que ela trata os testrálios tão bem (além do fato de ela ser uma pessoa de bom coração, óbvio), pois eles a fazem lembrar, de uma forma meio estranha, sua mãe. Mas, eu creio que a serenidade dela também se deve ao fato da morte da mãe. Sei que no fundo ela acredita que aquilo que perdemos sempre acaba voltando pra nós, mesmo que de uma maneira inesperada.
E falando em inesperado, qual foi se não a atitude de Narcisa Malfoy? Inesperada, sem dúvida. Se bem que, nem tão inesperada assim. Por mais que ela seja cruel, má, um filho pode acabar mudando toda a natureza de uma pessoa (tudo bem, a natureza dela só muda para/com o filho, mas é um começo, não é?). Já achei lindo quando ela obrigou Snape a fazer o Voto Perpétuo. Mas, pra mim o ápice da coisa foi quando ela mentiu, repito, MENTIU pra Voldemort, só para se certificar de que seu precioso filho estava bem.

Sei que existem casos de mães desnaturadas, mas essas, sinceramente, eu nem chamo de mães. Mãe nem precisa ser aquela de sangue. O maior medo de Molly era ver sua família morta, e o bicho papão não mostrou só os Weasley. Harry também estava incluso nesse temor. O que só atesta a minha teoria de que o amor é a coisa/sentimento mais forte, poderoso, e lindo do mundo.

Tonks nunca conviveu direito com seu filho, mas morreu lutando, na esperança de construir um futuro melhor pra ele. E o pequeno Ted cresceu, sabendo que tanto seu pai quanto sua mãe foram heróis. Mas mães não precisam morrer por nós para serem heroínas. Nossas mães nos amam todos os dias, incondicionalmente. Parem para ler a palavra incondicionalmente. Ela significa: que não admite ou supõe qualquer condição. O que quer dizer que você pode ter feito tudo errado, pode não ser igual aos outros, e sua mãe pode até não gostar disso e/ou te repreender, mas ela sempre irá te amar. E esse é o amor mais verdadeiro, um amor tão puro que é difícil de explicar. Mas, você que é filho, sabe que amor é esse, não é?
Se depois de tudo isso, você não sentiu nada, ainda não se convenceu, pode fechar esta página e ir embora. Mas, se você sabe que sua mãe faria alguma dessas coisas por você, então está na hora de retribuir. Proponho que antes de você pensar em um presente caro, uma roupa bonita, planeje um dia. Um dia pra passar ao lado de sua mãe, dizendo pra ela o quanto você a ama, agradecendo por tudo o que ela fez, e por tê-la presente. Acredite, esse vai ser o melhor presente, tanto pra ela, quanto pra você. Quer testar? Imagine-se sem ela.
As pessoas geralmente só dão real valor às coisas quando as perdem. Não esperem perder a pessoa que vocês mais amam no mundo, para dar valor a ela. Agora, eu sinceramente vou parar de escrever. Afinal, tenho um dia inteiro de elogios e carinhos pra planejar.




13 anos da Batalha de Hogwarts – Por Vinícius Vasconcelos




Há exatos 13 anos, a fictícia Batalha de Hogwarts chegava a um fim, e, com ela, a Guerra entre o lado dos “bruxos bons” contra os liderados por Voldemort. Harry Potter matara Voldemort e a partir deste dia se iniciou uma nova era no universo bruxo, onde a maior luta seria para perpetuar e cultivar o amor.

Confesso que sinto que o fato da data ter caído junto à divulgação do último filme da franquia, que foi reservado exclusivamente para dar lugar à batalha e à conclusão da história dos personagens, e junto com a divulgação da morte de Osaba Bin Laden sejam extremamente curiosos, para não se utilizar uma expressão melhor, e acaba por nos propor uma reflexão. No meu caso, entretanto, se adicionam dois outros aspectos: estou cursando Direito e estou cultivando minha fé católica. Mas o que isso tem a ver com Harry Potter? Para responder a essa questão, temos que refletir um pouco sobre guerra.

O que é, afinal, é uma guerra? Permito-me a utilizar as palavras de um dos meus professores para defini-la: assassinato, estupro e crianças morrendo. Não existe nada de ostentoso, glorioso em se entregar a uma guerra, seja ela por qualquer razão. No campo de batalha, o soldado é um ser humano e mesmo que demonstre ser apenas uma farda, ele não o é. Busca-se, sempre um bem da maior da humanidade. Discutir sobre o que é o bem maior da humanidade em termos simplesmente teórico é extremamente perigoso. A desvinculação de casos concretos pode levar, e não raro leva, a absurdos que carregam um grau de retrocesso lamentável, vide o nazismo ou, em Harry Potter, a supremacia dos puros-sangue. O assassinato é indiscutivelmente proibido; um atentado contra vida, que faz com que todos nos sintamos vulneráveis – e mesmo assim há condições em que o assassinato é permitido, no caso das penas de mortes nas ordens normativas jurídicas, inclusive no Brasil, que prevê pena de morte para um crime de guerra, quando o Direito, em si, já não existe e vive-se sob um Estado de Exceção.

Matar Osama bin Laden está sendo comemorado de uma maneira sem precedentes pelo mundo, principalmente, pelos americanos. Aqueles que têm amigos americanos puderam ver as manifestações no Facebook. Mesmo com todos os defeitos da nação estadunidense que são muito abordados, não se pode condenar essa comemoração, que, apesar de se sustentar na morte de uma pessoa, também se sustenta no amor ao próximo e na defesa da vida. Fez-se justiça em prol da humanidade, aniquilando um centro irradiador de ódio. Mesmo assim, é absolutamente normal que se tenha um passo atrás quando festeja-se isso. Matar é errado; mas matar Osama é algo que muitos fariam com as próprias mãos se pudesse; porém, há aqueles como o Hugo Chávez que condenam essa comemoração e apontam o dedo para o Tio Sam, como se fossem podres por isso. É óbvio que as conseqüências deste fato ainda estão por vir. No futuro, 1º de maio de 2011 pode ser conhecida nos livros de história como a data inicial da desestruturação da Al-Quaeda ou o estopim de uma Terceira Guerra Mundial. Quem somos nós para avaliar o mundo no qual estamos inseridos, um momento de profunda complexização da humanidade jamais visto?

O que isso tem a ver com Harry Potter mesmo?

J.K. Rowling e David Yates possuem uma sensibilidade para tratar de Guerra que muitas pessoas não têm. Jô entende a podridão da Guerra. Apesar de saber que teria que matar Voldemort, o caminho de Harry nunca foi de uma pessoa em busca da vingança ou que aceita o fardo plenamente, de modo 100%. Ele é humano e sua humanidade o fazia temer ter que matar Voldemort com suas próprias mãos; ele mal consegue lançar uma maldição crucciatus em Belatriz, no livro e filme Ordem da Fênix. J.K. teve que criar todo um percurso de acumulação de vontade de justiça ao entorno de todos os personagens e não somente Harry, que muitas vezes se viu ilhado. Para criar o cenário real de guerra, nossa autora teve que ter uma cautela sem igual, já que, apesar dos leitores principais do livro terem crescido, a obra ainda tem seu caráter infanto-juvenil. Não há estupro na guerra de Harry Potter, mas há uma clara insinuação no livro do que Greyback pretendia fazer com Hermione quando o trio foi capturado na floresta (J.K. foi duplamente esperta, por utilizar de um personagem lobisomem para fazer isso, o que deixava as interpretações ainda mais abertas), feita levemente por Scabior no filme; quanto às atrocidades com crianças basta lembrar que os alunos de Hogwarts eram obrigados a usar Maldição Cruciatus para castigar os demais e os assassinatos, bem, a esses nem preciso tecer comentários.

Do mesmo modo, é a direção de David Yates nos filmes; extremamente cuidadosa, não criando batalhas gratuitas para as telonas ainda que elas sejam necessárias. Em Ordem da Fênix, a Armada de Dumbledore abraça abertamente a preparação clandestina para a batalha, preparando o cenário em que eles tem que efetivamente serem soldados (ao som de uma trilha sonora alegrinha de Nicholas Hooper). Busca-se, no entanto, criar uma atmosfera na qual todos os personagens tenham a consciência do que é o bem maior, o que só começa a ocorrer pra valer com a morte de Dumbledore e os atentados que atingiram tanto os trouxas quanto os bruxos. Yates estava muito mais preocupado em reunir os alunos e corpo discente de Hogwarts no pátio da escola para homenagear Dumbledore ao final do sexto filme do que em criar uma batalha como a do livro.
O filme final parece seguir essa linha. Os gritos de guerra estarão lá, mas os personagens não vão perder sua vulnerabilidade para criarem seqüências de ação espetacular, mas vazias, tão comuns em Hollywood. Basta ver a expressão de Molly Weasley no trailer para atestar isso. O próprio epílogo do filme, que com certeza está guardado a sete chaves até a estreia, foi definido pelos produtores como um momento que vemos que o trio superou a guerra e tocou a vida, reconstruindo-a com o alicerce no amor. Ao final da batalha, não haverá uma grande comemoração como a que ocorre nos EUA hoje, mas muito mais uma sensação de alívio, justamente para não deixar transparecer qualquer apologia a guerra, ainda que o filme seja vendido e queira ganhar dinheiro como “a épica conclusão” e que nós desejamos realmente ver a batalha, com a qual, mesmo sendo fictícia, nós sofreremos. Complicada essa abordagem, não é mesma?! Não é à toa que Yates permaneceu sob a direção nos últimos quatro filmes. É fácil deduzir que a experiência em filmes de cunho político tenha sido preponderante para essa continuidade e que isso, certamente, foi defendido por Jô.


No programa da Oprah que J.K. participu em outubro do ano passado, ela deixou claro essa sensibilidade ao mencionar, olha só, o atentado de 11 de setembro de 2001.

“Eu sei que o amor é o que há de mais poderoso. E eu me lembro que, nossa… estou prestes a chorar, mas me lembro que quando 11 de Setembro aconteceu [os atentados], todos aqueles últimos telefonemas foram sobre isso, a última coisa que direi neste mundo será “Eu te amo”. O que é mais poderoso do que isso? O que é uma prova melhor do que isso? Não é o medo, além da morte.”
“Jo: É tão… é um momento de definição em nossas vidas. Eu lembro de pensar “Elas caíram?” – ligar a TV e ver. E entrei em pânico, porque tenho amigos em Nova Iorque, e mandei e-mails para dois de meus melhores amigos lá. Um deles é meu editor, Arthur Levine, e de um modo bizarro ele pôde me responder imediatamente. A última frase de seu e-mail foi ‘E eles dizem que não devemos ensinar às crianças sobre o mal.’”

Na data de hoje, o que temos que celebrar não é a batalha, mas a vitória do amor sobre o mal, e para os religiosos, de Deus. JK recheou seus livros explicitamente com referências cristãs e até referências de outras religiões podem ser depreendidas das passagens em que se trata do amor. Buscar sentir esse tipo genuíno de amor é o que no fundo move os personagens de Harry Potter e os personagens do mundo real. Lutar contra o mal é necessário e difícil, porque há um conflito com esse desejo de amor e sopro de luz, de menor ou maior grau dependendo de cada um.


Nem tudo se transforma em um mar de rosas quando a manhã chegou aquela amanhã de 3 de maio de 1998 em Hogwarts – Comensais certamente continuaram à solta e fizeram um estrago, tudo que fosse ruim continuou a ser combatido, de modo incessante. Ou vocês acham que é não é isso que Jô tem em mente quanto ao que a nova geração de Hogwarts enfrentaria em seu caminho? (A autora comentou que, apesar de não planejar escrever novos livros, ela ainda tem os personagens em sua mente.)

Não é à toa que a grande batalha termina banhada por raios dourados da aurora. Assim como esse calor fez com que este capítulo da história bruxa pudesse ter um ponto final, só assim podemos constantemente enfrentar o ódio que castiga nossa humanidade.

Mergulho de Fã – Por Caio Reis


Fã é fã em todos os lugares. Seja fã de Harry Potter, seja de Glee, de Senhor dos Anéis ou de High School Musical. Fã é fã e acabou. São todos iguais! Obcecados, insistentes, malucos, dramáticos, determinados e apaixonados. Nessa coluna, pretendo abordar uma característica que eu acho particularmente admirável em fãs: a vontade de ser parte daquilo que ama.

É dessa vontade de ser, de atuar, de agir, de participar, que nasceram os RPGs virtuais. O RPG(Role-playing game) é um tipo de jogo que permite ao jogador mergulhar na história, criar um personagem e literalmente participar de uma aventura, que pode ser baseada em livros, séries ou animes, ou até mesmo uma totalmente nova. Cá entre nós, é tudo que um verdadeiro fã queria, não é? Imagine participar de situações parecidas com a de seus personagens favoritos, enfrentar monstros (óbvio que na imaginação) e cruzar obstáculos!

Inicialmente jogado com papel, lápis e dados, diferentes formas de RPG se desenvolveram, e pretendo me focar em uma, em especial: Os RPGs virtuais. No antigo MSN Groups, se desenvolveram grupos que tinham um objetivo: jogar RPG via chat. Sim, via chat! O chat dava suporte a ações, a sussurros (conversas privadas) e era a plataforma ideal para a narração do mestre. Desenvolveu-se também uma outra forma de RPG: a play by forum. O esquema era o mesmo dos RPGs via chat, mas a história se desenrolava em posts nos fóruns.

Surgiram então as Escolas de Magia virtuais. O formato era simples: uma escola a la Hogwarts, com aulas, provas, professores, monitores e tudo que uma escola de magia que se preze deve ter. E é aí que entra a beleza do amor de fã… funcionou! E funcionou muito bem! Centenas de fãs mergulharam de ponta na história, criando seus personagens, participando das sessões de RPG, dando aulas sobre as mais variadas matérias, se divertindo, fazendo amigos.

Venho desse background de RPGs. Tenho uns *censurado* anos de RPG. Já utilizei vários nicks (costumava atender por Mark Dorset, se alguém ai joga, talvez se lembre), participei de várias histórias, fui aluno, monitor, professor de TODAS as matérias possíveis, chefe de casa, jogador de Quadribol, Ministro da Magia e outros infindáveis cargos que já me fogem à memória. Fiz alguns dos melhores amigos que já tive, briguei, ri, mergulhei na história e fiz parte de uma das minhas maiores paixões: o universo mágico de Harry Potter.

Não me arrependo de ter deixado de sair algumas vezes para dar uma aula, ou de ir tomar sorvete com os alunos por causa de uma reunião importante do Ministério. Fiz o que todo fã sabe fazer de melhor: abrir mão. E me diverti muito, posso garantir! Fazer parte da história era uma diversão por si só. Conversar sobre os livros e filmes que viriam, discutir teorias, esperar ansiosamente por qualquer entrevista que pudesse conter alguma novidade, fiz de tudo. E aprendi muitas coisas! Se hoje sei muito sobre Mitologia, é porque, não me perguntem quando, fui professor de Mitologia em uma escola. Comprei um livro para poder aprender e dar aula melhor! Coisas de fã, coisas de fã!

Sabem, entrei de peito na aventura. Perdi a conta de quantas vezes me emocionei com os RPGs. Aliás, isso é outra coisa que fã sempre faz… se emocionar. Harry Potter me emociona. Foram anos junto com a saga, acompanhando, sempre na expectativa. Harry Potter mudou a minha vida, assim como mudou a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. Um mero jogo bastava para dias e dias de diversão interminável, dias estes que seriam dominados pelo tédio das férias de janeiro.
E se de toda essa minha experiência eu pudesse tirar uma dica pra dar pra vocês, essa seria: mergulhem.




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